E uma boa parte de nós é Mimosa.
terça-feira, março 31, 2009
segunda-feira, março 30, 2009
sexta-feira, março 27, 2009
O melhor monólogo da história dos desenhos animados logo a seguir ao melhor monólogo da história dos desenhos animados
"Oh, I know it hurts now, Brian, but look at the bright side: you have some new material for that novel you've been writing. You know... the novel you've been workin' on? You know the, the one, uh, you've been workin' on for three years? You know the novel. Got somethin' new to write about now. You know? Maybe a, maybe a main character gets into a relationship and suffers a little heartbreak? Somethin' like what... what you've just been through? Draw from real life experience? Little, little heartbreak? You know? Work it into the story? Make the characters a little more three dimensional? Little, uh, richer experience for the reader? Make those second hundred pages really keep the reader guessing what's going to happen? Some twists and turns? A little epilogue? Everybody learns that the hero's journey isn't always a happy one? Oh, I look forward to reading it."
Stewie Griffin, in "Family Guy"
O melhor monólogo da história dos desenhos animados
"How you uh, how you comin' on that novel you're working on? Huh? Got a big, uh, big stack of papers there? Got a, got a nice litte story you're working on there? Your big novel you've been working on for three years? Huh? Got a, got a compelling protagonist? Yeah? Got a obstacle for him to overcome? Huh? Got a story brewing there? Working on, working on that for quite some time? Huh? Yeah, talking about that three years ago. Been working on that the whole time? Nice little narrative? Beginning, middle and end? Some friends become enemies, some enemies become friends? At the end, your main character is richer from the experience? Yeah? Yeah? No, no, you deserve some time off."
Stewie Griffin, in "Family Guy"
A ternura dos quarenta
Na versão porno gay do Ali Baba e dos quarenta ladrões, o Sésamo não é uma gruta.
Mamas um
Regra geral, as mulheres que sobrevivem a um cancro da mama ficam com um ganda ímpar de mamas.
What you don't see is what you don't get
A política do "vês mas não tocas" das casas de strip lixa completamente o esquema aos seus clientes cegos.
quinta-feira, março 26, 2009
Os traumas são fodidos
Uma pessoa sabe que está tremendamente traumatizada com passadeiras sem semáforo quando lhe começa a faltar o ar, lhe começam a tremer as mãos e lhe começam a faltar as forças nas pernas na imediata aproximação a uma.
E quando sai desnecessariamente mais tarde do trabalho só porque levou uma hora a ganhar coragem de enfrentar oito de seguida.
Já há muitos, muitos anos que não me sentia tão vulnerável.
Ah, a presunção humana...
Não vou aderir a esta campanha de sensibilização pelo simples facto de o ser humano por detrás desta "brilhante" ideia ter a imbecil presunção de achar que, ao perverter climatologicamente o planeta, estamos é a prejudicar o planeta e não a raça humana.
Veja-se, com atenção, o "Uma Verdade Inconveniente".
Ouça-se, com atenção, George Carlin a falar humoristicamente da crise ecológica.
E perceba-se, de uma vez por todas, que a mensagem deles se baseia no seguinte: o nosso medo é pura e simplesmente o medo humano de uma possível erradicação da raça humana fruto da nossa própria estupidez.
E digo eu que, se for esse o nosso destino, então é porque já estávamos fadados há muito a cumpri-lo.
E não se preocupem hipocritamente com o planeta.
O planeta, esse, ficará cá para contar a história.
Como se constrói uma lenda
O Merlin devia consumir poucas substâncias alucinogénias para achar que era uma boa ideia espetar uma espada numa pedra e coroar rei a pessoa que a conseguisse desencaixar de lá.
Desde que passaram a meter lá os cromos da Floribella, a cena nunca mais foi a mesma
O Bollycao não é claramente uma cena portuguesa porque, com a nossa tendência de nasalar os sons, se fosse português chamar-se-ia Bollycão.
Canhotices
OK, eu sei que isto deve ser uma daquelas cenas de gaja, e sei que algumas de vocês o utilizam frequentemente nos vossos posts, mas eu não consigo deixar de manifestar o meu desagrado pelo facto de vocês, lá de quando a quando, decidirem escrever
aqui.
Há qualquer coisa no "align right" que me incomoda.
Há qualquer coisa no "align right" que me incomoda.
No campo do sonoramente ofensivo
Indago-me sobre qual a agrura da vida que leva uma mulher adulta a usar múltiplas e chocalhantes pulseiras e guizos nos sapatos.
Em simultâneo.
Freezer
Eu tento sempre fazer passar com o olhar às pessoas que me estão a aborrecer solenemente a mensagem de que o corpo delas, se bem esquartejado, cabe na perfeição na última gaveta do meu congelador.
Isto, claro, se eu mudar os Douradinhos e os filetes de vaca para a gaveta de cima.
quarta-feira, março 25, 2009
Radio Ga Ga²
Tenho uma quase incontrolável vontade de dizer "mã eu quero" sempre que um gago se engasga a dizer a palavra "mas".
Pobre venda de ideias
Nuno Markl quer convencer o Mundo de que o Twitter é "a ferramenta de comunicação mais cool da História da Humanidade" da mesma forma que quer convencer o Mundo de que Há Inteligência em Ana Galvão.
Da mesma forma que Ana Galvão nos quer convencer de que sabe falar inglês.
Da mesma forma que o inglês nos quer convencer que o chá das cinco é para se tomar, efectivamente, às cinco.
Ms s~o verdes
No di em que o A, um dos ilustres leitores deste estminé, se chter comigo, este é mis ou menos o vestígio do specto que os meus textos começr~o ter.
Isto té ele fzer s pzes comigo.
Intrinsecamente falando
Muita coisa nociva se diz sobre o Bibi, mas a verdade é que ele incutia valores à miudagem da Casa Pia.
Ouvi dizer que quase todos eles eram nota dez.
Mamma aqui a ver se eu deixo
Não vos consigo manifestar por escrito a felicidade que sinto por não ter visto o "Chicago", o "Moulin Rouge", o "Mamma Mia" e outras bardanojices do género.
terça-feira, março 24, 2009
Coisas que me fazem pensar que há pessoas a quem deviam enfiar os seus tomates na boca de uma tartaruga mordedora
Vasco da Gama wannabes
Aposto que em mil setecentos e troca o passo houve muitos novos americanos a descobrirem os caminhos marítimos para as índias.
Filha da mãe
Provavelmente, o que o Josef Fritzl pensou quando lhe meteram a filha nos braços no dia do nascimento desta foi "Ora aqui está a futura mãe dos meus filhos".
Um coração deste tamanho
O Josef Fritzl é apenas um daqueles pobres coitados que entra na minha categoria de "Pessoas com demasiado amor para dar".
Não precisei de comer doze passas para desejar isto
Um dos meus objectivos para 2009: durante o anúncio da Pescanova, e naquela altura em que aquele coro de vozes sexy diz "Pescanova, o bom... sai bem", conseguir começar a vir-me exactamente ali durante aquelas reticências.
Palavra de honra
Sempre que me falam em passar das palavras aos actos, imagino sempre dois escritores a pegarem-se à porrada.
segunda-feira, março 23, 2009
Tudo em família
É provável que as comemorações do Dia do Pai em casa do Fritzl fossem um pouco confusas.
Tintanic
Pescaram-na de um gélido mar de palavras.
Uma das poucas sobreviventes do acidente que ficaria para a História como uma das - se não a - maiores tragédias de sempre da Língua Portuguesa.
Apesar do estado quase fatal de hipotermia, ela não parava de gritar a letra dele.
"W! W!," solfejava ela, em claro delírio, entre tremidos e monocórdicos espasmos.
Na sua cabeça, refazia-se aquela fatídica noite em que tanto ela como ele haviam subido, dias antes, a bordo dele.
Ele.
O maior alfabeto latino de todos os tempos.
O maior abecedário dessa natureza tinha, até então, suportado apenas vinte e três caracteres.
Este levava mais longe a gramática e a opulência escrita: vinte e seis caracteres.
Haviam reparado, ele e ela, um no outro ainda no porto.
Cruzaram-se por tudo menos por acaso no deck principal ainda no dia do embarque.
Foram-se contextualizando aos poucos.
Havia pouca margem para erro: a tensão sintáctica entre eles era palpável.
Formavam a sílaba perfeita aos olhos de quem quer que os visse.
"Nunca nenhuma vogal me fez sentir o que tu me fazes sentir, E," dizia ele, enquanto no extremo da proa do abecedário lhe abria os tracinhos do "E" e a punha a voar.
"Sou a rainha da semântica!," berrava ela para o vazio do contexto.
Linguisticamente, tornavam-se um só.
Cada vez mais.
Ele pediu-lhe para o deixar desenhá-la nua.
"Tira o acento circunflexo. Quero ver como ficas sem acentuação."
Ela despiu-se de consonância.
Ele ficou consoante.
"Sem ti não sou nada. Sem ti, não sou pronunciado nem tenho sonoridade própria."
Fizeram amor e, por momentos, caligrafaram-se para o resto do Mundo.
Quis o destino, no entanto, que a tragédia lhes comesse o momento.
O abecedário, qual bêbado analfabeto à deriva numa cartilha, embateu de frente num Acordo Ortográfico.
A potência do impacto foi tal que o á-bê-cê rachou ali entre o eme-ene.
Os erros ortográficos começaram a abordar.
O pânico instalou-se.
"Vogais e minúsculas primeiro! Vogais e minúsculas primeiro!," era o que se ouvia no acesso aos escaleres que, inutilmente, tentavam extravasar o maior número possível de caracteres.
"Salva-te, E! Enliça-te num dos botes!"
"Jamais! Não irei a lado algum sem ti, W!"
Abraçaram-se no preciso instante em que a única metade ainda à tona da literária nau se afundou nas glaciais águas.
O medo de se afogarem em redundância de discurso fez com que ignorassem o regelo e esbracejassem até à superfície, onde se agarraram com unhas e acentos a uma arcaica figura de estilo.
"De-depressa, s-sobe aí para c-cima!," tiritava ele, enquanto a empurrava com forças que já lhe começavam a faltar.
À volta de ambos, centenas de grafemas em desuso imergiam para a morte ortográfica.
"M-mas... e tu?"
"Eu f-fico bem. T-tenho uma Termotebe vestida. Não te p-p-preocupes," ultimou ele imediatamente antes de a sua temperatura corporal bater abaixo dos trinta graus centígrados e da sua impressão gráfica se afundar, para todo o sempre, no salobro do que os rodeava, e apenas um pouco antes de ela perder os sentidos.
Apenas um pouco antes de ela, por ela, perder o sentido.
"Tenha calma, minha senhora," disse um dos caracteres que a havia retraído do mar, e que a retraía agora dos seus devaneios pelas mais recentes anamneses.
"Devia tentar descansar, e dar o tempo necessário à sua linha de impressão de recuperar a forma."
Mas já não havia forma.
Nem para ela, nem para tantos outros caracteres e vocábulos, facultatividades gramaticais e consoantes mudas, maiusculizações exacerbadas e acentuações diferenciais necessárias.
Nada mais seria o mesmo para ninguém depois daquele aparentemente inevitável e violento encontro com o maldito Acordo Ortográfico.
Incoming message from the Big Giant Head
O meu pénis tem uma cabeça tão grande que até já se lhe começa a perceber as primeiras rugas na testa.
"É uma vez" ou "Era uma vez"?
Se eu vos dissesse que estou a pensar em ter o Capítulo III do "Conta-me uma estória" pronto até ao final da semana, e que estou a pensar em reatar a estória desta feita até ao fim pois tenho ideias brutais que não posso deixar que morram assim, até que ponto estaria eu a dar-vos a vós, mortais, algo semelhante a uma vã esperança?
Crónica Oitava da Gi*
Se algum dia se indagaram com o como será que fala alguém que tomou demasiado LSD nos anos sessenta, não se preocupem: a Gi ensina.
Frases como "Se um telefonista erra-se 7 vezes o que deve dizer ao receber uma chamada ficaria com o lugar?" ou "E se uma vendedora dobra-se 7 peças de roupa mal, diria a gerente que foi só um pesadelo?" fazem-me ver que esta menina anda a barrar demasiadas vezes de manhã o pão com ópio.
E os erros ortográficos da Gi são, só neste post, suficientes para me causar ataques convulsivos de epilepsia.
Quase tantos ataques convulsivos de epilepsia como os causados pelo seu delinear infantil de ideias pseudo-moralistas.
Uma selva lá fora
Num safari, olho sempre para os dois lados antes de espetar um balázio numa zebra.
sexta-feira, março 20, 2009
Muito errado em muitos aspectos
A minha mãe ontem ligou-me a dizer que queria comer comigo e eu perguntei-lhe logo: "Na minha casa ou na tua?"
"Equinócio" é um óptimo nome para um filho
Os decotes são como as andorinhas: vêm com a chegada da Primavera.
This is a post with an english title...
... mas onde o corpo de texto está na língua materna: o Português.
Estes são os tipos de posts mais comuns na comunidade Blogger hoje em dia.
Este é um daqueles posts onde a ideia começa a ser gerada no título para, por fim...
... ser concluída aqui, no corpo de texto.
Trinitá
Gostava de ser um bocadinho mais como o Terence Hill e o Bud Spencer e conseguir aviar murros e chapadas emitindo sempre o mesmo som.
quinta-feira, março 19, 2009
Crónica Sétima da Gi*
E diz a Gi: "Hoje eu descobri que tu, meu amor, és oco! Bato uma, bato duas, bato três vezes e nada!"
E eu não digo nada.
Acho que não é preciso.
Crónica Sexta da Gi*
E diz a Gi: "Se eu estivesse aí ao teu lado dar-te-ia o sermão das coisas que não valem a pena."
E digo eu: "Não dês. Não vale a pena."
Bostik
Se tiverem de escolher entre comprar o DVD da primeira série d'Os Contemporâneos e comprar um saco de merda, optem pelo saco de merda.
Aposto que pelo menos o saco de merda deve trazer extras de jeito e qualquer coisa que não apenas o conteúdo básico.
Enfim, algo que, no mínimo, justifique os trinta euros que pagaram por ele.
Fisherman's Blowjob
Se estiverem com muito calor, peçam à vossa namorada para pôr um Fisherman's Friend na boca e vos fazer um broche.
Comigo funciona.
Crónica Quinta da Gi*
E diz a Gi lá entremeio de balbucios incoerentes que metem a paciência e lembranças e copos e a cabeça vazia dela: "E pela mesma janela onde um dia entrou a esperança, entram agora pedregulhos de granizo, que me dizem bem baixinho: o mundo lá fora já foi bem mais bonito."
E digo eu: "Eu não sei o que é que tu andas a fumar, mas parece ser cem porcento puro. Dá os parabéns ao teu dealer por mim."
E pergunta a Gi, já bem lá no fim, de uma forma nada pita, se "a-l-g-u-m-a v-e-z n-a t-u-a v-i-d-a f-o-s-t-e l-o-n-g-e d-e-m-a-i-s?"
E respondo-lhe eu: "S#a#b#e#s, a#i#n#d#a n#ã#o t#i#n#h#a, d#e f#a#c#t#o, i#d#o l#o#n#g#e d#e#m#a#i#s n#a v#i#d#a, m#a#s e#s#t#o#u a f#a#z#ê-l#o a#g#o#r#a, r#e#s#p#o#n#d#e#n#d#o a e#s#t#a t#u#a t#ã#o h-i-f-e-n-i-z-a-d-a p-e-r-g-u-n-t-a c#o#m e#s#t#a m#i#n#h#a t#ã#o c#a#r#d#i#n#a#l#i#z#a#d#a r#e#s#p#o#s#t#a. A#i#n#d#a p#e#n#s#e#i e#m u#t#i#l#i#z#a#r a@r@r@o@b@a@s o#u a#t#é m#e#s#m#o c$i$f$r$õ$e$s, m#a#s d#e#p#o#i#s p#e#n#s#e#i c#á p#a#r#a m#i#m: b#o#m, a@r@r@o@b@a@s p#a#r#e#c#e#m m#u#i#t#o "a"#s, e d#e#p#o#i#s a#i#n#d#a é c#a#p#a#z d#e d#a#r a#z#o a c#o#n#f#u#s#ã#o n#a l#e#i#t#u#r#a, e o c$i$f$r$ã$o é a#l#g#o q#u#e j#á e#s#t#á a c#a#i#r e#m d#e#s#u#s#o, p#o#r i#s#s#o a#c#h#o q#u#e v#o#u a#l#i#n#h#a#r c#o#m o#s c#a#r#d#i#n#a#i#s. J#á a#g#o#r#a, n#u#n#c#a r#e#p#a#r#a#s#t#e c#o#m#o o c#a#r#d#i#n#a#l p#a#r#e#c#e a#s#s#i#m c#o#m#o q#u#e o f#i#l#h#o p#ú#b#e#r#e d#o J#o#g#o d#o G#a#l#o? S#e c#a#l#h#a#r, n#ã#o. M#a#s s#ó p#o#r#q#u#e n#ã#o s#a#b#e#s o q#u#e "p#ú#b#e#r#e" q#u#e#r d#i#z#e#r. D#e#i#x#a e#s#t#a#r: e#u c#o#m#p#r#e#e#n#d#o."
Tweety
Estou a pensar em aderir a esta moda do Twitter, mas só quando me apetecer efectivamente gastar desmesurada e inutilmente o meu tempo em algo de carácter absurdamente ridículo.
À terceira não foi de vez
Poucas são as coisas que nos fazem sentir mais dentro de um número do Cirque du Soleil do que ser atropelado.
Falo por experiência própria.
Aquele voo de três metros da passadeira em direcção ao passeio com direito a mortal encarpado e aterranço de cabeça e costas na calçada na quarta-feira à noite de há duas semanas atrás foi, e de acordo com as testemunhas no local, senão candidato à medalha de ouro de uma qualquer modalidade de ginástica paralímpica, então pelo menos candidato à medalha de gesso.
Lembro-me de estar a sair do trabalho em direcção àquelas malditas passadeiras que parecem ter uma cultura própria.
Ali, parece ser ponto aceitável o acto de sair a acelerar da rotunda e ignorar os peões.
Lembro-me de, das duas faixas de rodagem, o primeiro carro parar.
Lembro-me de entrar na passadeira.
Lembro-me de olhar para a segunda faixa de rodagem e ver o carro ainda a metros de distância.
Lembro-me de iniciar a travessia da segunda metade da passadeira.
E lembro-me de ouvir um estrondo enorme entre algo rijo e algo assim não tão rijo.
Na altura, e enquanto dava um virote sobre mim mesmo, não processei que o algo assim não tão rijo pudesse ser eu.
Nem o porquê do chão, que até há tão bem pouco tempo se encontrava ali bem-comportadinho na zona dos meus pés, tinha fugido e se encontrava agora perigosamente perto da minha cabeça.
Só depois de esparralhado no solo e sem me conseguir mexer é que consegui, efectivamente, entranhar o ocorrido.
Há quem alegue encontrar Deus naqueles segundos que sucedem a nossa tomada de consciência do que raio acabou de acontecer.
Eu encontrei um senhor de bigode que, agarrado à minha mão esquerda, me disse que "Vai ficar tudo bem. Fica connosco, não desmaies. Já estão a chamar a ambulância."
Lembro-me de ter ficado em pânico por não saber se estava ou não todo partido, e lembro-me de ter pedido duas coisas ao senhor de bigode: primeiro, que verificasse se algo em mim estava a apontar para onde não devia; segundo, para me procurar o telemóvel na mala do portátil que eu precisava de ligar para a minha namorada a avisar-lhe que tinha sido atropelado e que, derivado disso, ia chegar um bocadinho mais tarde ao nosso ponto de encontro.
Lembro-me de sentir o meu corpo a começar a tremelicar com o frio, da chegada da ambulância, da minha completa imobilização por parte de colares cervicais e de faixas e mais faixas, do "Ele está a começar a entrar em hipotermia, rápido vamos metê-lo na ambulância", do meu "Obrigado por tudo" ao senhor de bigode, do "Ora essa, não tem nada que agradecer, temos de ser uns para os outros" da parte dele, de me perguntarem como me chamo, que idade tenho e se conseguia mexer as extremidades.
Lembro-me do bombeiro que me socorreu, um rapaz cinco estrelas que desde miúdo que queria ser bombeiro.
Que tratou e zelou de mim até eu ser entregue em outras boas mãos.
O Helder Matos.
Espantoso como é extraordinariamente fácil fixar os nomes das pessoas que nos fazem bem.
Lembro-me da entrada nas Urgências, do ser colocado numa sala com mais três atropelados, do TAC, dos raios-X ao corpo todo, da conversa explanatória com a polícia de trânsito e do soprar no balão para o apurar do 0.0 da minha taxa de álcool no sangue.
Lembro-me de deixarem a mulher que me atropelou abeirar-se da minha maca sem o meu consentimento porque a "simpática da senhora enfermeira tinha deixado".
Lembro-me de ela me dizer coisas fantásticas, tais como "Então você atira-se assim para a passadeira?!", ou "Quando o vi ali estendido no chão e vi a sua cara de boa pessoa, pensei logo "Ai Meu Deus, que matei uma boa pessoa!"", ou "Tenho um trauma, é que a minha mãe já foi atropelada por uma mota, e desde aí sempre que vejo uma mota faço logo uma careta, e agora fui eu que atropelei, e logo a si que tem cara de tão boa pessoa", ou ainda "Eu nem sei de que lado da passadeira você veio, tenho o vidro assim um bocado sujo do meu lado, é que já ando para ir levar o carro para lavar há já algum tempo".
Lembro-me de olhar para ela e reparar que era estrábica, e de ter tido vontade de lhe dizer "Se calhar, você não me viu porque o seu olho direito é quem manda aí nessa cara. Se calhar, o olho esquerdo disse "Atenção ao rapaz na passadeira." e o olho direito respondeu por cima "Rapaz? Qual rapaz? Não estou a ver rapaz nenhum. Acho é que as copas destas árvores podiam estar mais bem cuidadas."".
No entanto, a única coisa que me saiu foi um "Não se preocupe, eu acho que estou bem".
Lembro-me de ela ter saído para a sala de espera e de eu ter desejado muito, mas mesmo muito que lhe tirassem a carta por ela claramente não reunir as condições mínimas necessárias para não ser um perigo na estrada.
Lembro-me da longa espera pelos resultados, da conversa com o neurocirurgião e do diagnóstico final, já há uma da manhã, do médico de serviço: "Você não tem uma única fractura, uma única hemorragia interna nem uma única lesão cerebral notória. Pode ir para casa. Leve é esta receita para analgésicos porque essa perna direita e essas costelas ainda lhe vão maçar um bom bocado."
Lembro-me de o meu caminho para casa me ter esfriado não só as partes doridas como também os ânimos.
E lembro-me de, entre muitas dores, mesmo antes de adormecer, não ter conseguido evitar pensar, numa toada mais a sério, que tinha tido muita, mas mesmo muita sorte.
Em contacto telefónico com o Gaspaxo, chegámos à conclusão que a minha vida tinha acabado de ser dividida em duas eras: a era a.C. (antes do Carro) e d.C. (depois do Carro).
Considerem-me, se assim desejarem, o vosso novo Messias que, em vez de crucificado, preferiu aderir aos tempos modernos e ser antes atropelado por uma velha.
E estas últimas duas semanas têm sido, basicamente, repouso e recuperação.
E de me sentir um bocado como o puto do "Free Willy" naquela parte final em que o Willy salta por cima dele no pontão, com a diferença de que ao invés de saltar por cima de mim e de me deixar a ver arco-íris por entre as gotas de água, levei foi com a orca em cheio no lombo e fiquei foi a ver estrelas.
E hoje regressei aqui, ao trabalho.
E tive de enfrentar aquela passadeira.
E vou ter de continuar a enfrentá-la pelos menos duas vezes por dia útil.
Consigo perceber que algures na abóbada lá em cima as entidades celestiais estão a jogar a ver quem primeiramente me consegue provocar a minha primeira fractura.
Um conselho para estas: carros utilitários não funcionam.
Para mim, tem de ser jipes para cima, que o resto, aparentemente, não faz mossa.
E eu sei do que falo, que este já foi o meu terceiro atropelamento.
E à terceira ainda não foi de vez.
quarta-feira, março 04, 2009
Branco no branco
Já cheguei a meter conversa com um albino que não fazia a mais pálida ideia de sobre o quê é que eu estava a falar.
Crónica Quarta da Gi*
E diz a Gi: "Gostava que o teu cérebro incha-se, quando encharcado em alcool, como as esponjas."
E digo eu: "E aprender a conjugar o imperfeito do conjuntivo e a colocar a devida acentuação nas coisas, não?"
E responde a Gi: "Tu sabes que existem melhores maneiras de fazer 'as coisas'."
E digo eu: "Chabala, quase que te imaginei a fazeres aspas com os dedos enquanto citavas ali 'as coisas'. Se bem que aquilo não são aspas: são plicas. Como é que se mimicam plicas? É só com um dedinho de cada lado? Ou, no teu caso, com um casco de cada lado? Que eu sei que tu és Vaca, de acordo com o horóscopo chinês mas na Tailândia."
E replica a Gi: "O que tu não sabes, é que eu também o sei. E em vez de um, passamos a ser dois."
E correspondo eu: "E eis que quando eu penso que tu não me podes deslumbrar ainda mais com essa tua intrincada noção de tentares e conseguires ser o mais básica possível, eis que surge essa tua lógica matemática aplicada à tua débil noção do que é o bem-escrever. Eu quase que aposto o meu tomatinho direito, sim, aquele que não está a descair para a desgraça, que se te entregassem um daqueles jogos com um tabuleiro com buracos na forma de um cubo, uma pirâmide, um rectângulo e uma esfera, tu haverias de conseguir, nem que fosse à melhor de três, colocar o cubo, a pirâmide, o rectângulo e a esfera nos orifícios correctos. E por "orifícios correctos" não me estou a referir a nenhuma das tuas reentrâncias sexuais porque, Deus nos livre a todos, espero que estas nunca sejam preenchidas por nada de minimamente fertilizante, seja esse nada cúbico, piramidal, rectangular ou esférico, pois se alguém tem o azar de tentar algo semelhante a sexo contigo e consegue, por algum motivo de ordem celestial que eu desconheço, ter a força de vontade necessária para ejacular na direcção dos teus ovários sem pensar no ignóbil prejuízo para a Humanidade que esse acto terá, eu nem sequer quero imaginar a que raio de Anticristo é que tu vais dar progénie. Provavelmente, ao Anticristo que vai seguir as pegadas da sua mãe, continuar o seu apocalíptico caminho e assassinar, de uma vez por todas, a Língua Portuguesa com a sua abjecta forma de escrever. O que fará de ti uma pessoa (nota que uso aqui "pessoa" no sentido lato da coisa) má. E deixarás, como acho eu que é teu apanágio para a vida, o resto das pessoas na mão."
E vai e retorque a Gi: "E eu sopro nas coisas más que ficam na palma da mão depois de ter estado contigo. E tu? Tu continuas a saber-me emocionalmente a pouco."
E vou e exponho eu: "Sabes que se soprares as coisas más da mão vais acabar por soprar a tua própria mão, não sabes? E se eu te saibo a pouco, então acho que aí o azar é teu. Talvez se beberes menos da fonte da estupidez possas vir a degustar melhor aqui deste gourmet de emoções que sou eu. É que eu sou de gosto adquirido, e ouvi dizer que as águas daquela fonte são desfeadamente tépidas, e possuem o vaticínio de te entupir toda e qualquer outra comoção que possas vir a querer apreciar. Da próxima vez que te sentires sequiosa, segue este meu conselho: caga na fonte, e pede antes uma 7 Up, OK?"
Vais partir naquela estrada
Tenho um amigo que consegue fazer fracturas expostas com uma perna atrás das costas.
terça-feira, março 03, 2009
O prazer foi todo meu
Metam-me um livro de nus femininos nas mãos, dêem-me umas semanas com ele e eu prometo que vos devolvo um livro em branco.
Acrónimos anónimos
Pergunto-me se o IKEIA e o AIKIA são ali ao lado do IKEA.
É que pessoas há que dizem que vão a Alfragide a estas superfícies comerciais fazer os seus avios mobiliários, mas eu pura e simplesmente nunca entrevi tais sítios.
Se calhar, porque sou estranho.
Um daqueles bizarros seres que, desviados da profunda realidade, fazem compras no LIDL e não no LINDER, como a minha avó.
Ou no LÍDER, como a minha madrinha.
O LÍDER: o único supermercado no Mundo que aceita pagamentos em aereós.
O aereó: a moeda oficial na cabeça das senhoras com mais de cinquenta anos.
segunda-feira, março 02, 2009
Essa desilusão chamada "Raça Humana"
Tem alturas, várias alturas, e não tão poucas alturas quanto isso, que o Ser Humano, o Ser dotado da Razão por excelência, me mostra que de racional e de humano tem muito pouco.
E tem alturas, várias alturas, e não tão poucas alturas quanto isso, que sinto que pertenço à raça errada.
Amaldiçoo o pessoal da maternidade de Zgbjorlnk, no planeta Trglhindfrk da galáxia 18 do quadrante Theta que achou piada à ideia de trocar, a 11 de Novembro de 1979, um bebé humano da Maternidade Alfredo da Costa por mim...