Cavaco veta (temporariamente) a adopção por casais do mesmo sexo e rapidamente se fazem novamente sentir os ecos dos pouco dotados de massa encefálica.
Talvez não de toda, mas definitivamente daquela que reside no rés-do-chão esquerdo do nosso cérebro e que é responsável por uma pequena coisinha chamada "pensamento lógico".
Novamente, impera derramadamente pelas redes sociais aquela retórica energúmena e homofóbica, delicadamente disfarçada de filantropia, de que o veto é pelo melhor para as crianças.
É tudo por elas. Tudo.
O que interessa aqui são as crianças, OK?
Elas é que são o foco. O âmago. A essência. O fulcro da questão. O núcleo preponderante. O centro do debate. O único ponto de interesse.
É tudo por elas, e pela asséptica protecção da sua educação e da sua excelsa formação enquanto seres humanos equilibrados e cem porcento funcionais.
Coisa que, aparentemente, à luz dos dogmas extraordinariamente altruístas desta gente, um casal do mesmo sexo não consegue fornecer nem que se foda.
E sabem que mais? Eu concordo.
Decididamente, concordo com a premissa base.
Concordo com a completa defesa dos interesses da criança.
Só que eu ia mais longe.
Muito, mas mesmo muito mais longe na sua defesa.
Tudo para a criação da atmosfera idílica que elas merecem.
Tudo... ou nada.
Ou seja, se uma criança precisa de um pai e de uma mãe, todas as mães solteiras deviam ser privadas dos seus filhos.
Bem como todas as mães e pais viúvos(as), pelo mesmo motivo.
Bem como todas as mães adolescentes, obviamente incapazes de fornecer a maturidade que a educação de um novo ser exige.
Bem como todos os pais divorciados com descendentes menores, que claramente não conseguem ministrar uma base familiar estável.
Bem como todos os pais que trabalham até altas horas e pouco tempo passam em casa a criar os tão necessários laços parentais.
Bem como todos os pais que não revelem activo interesse pela vida social e escolar dos filhos e assim os desamparam emocionalmente.
Bem como todos os pais com baixo rendimento, incapazes de fornecerem à criança tudo aquilo que seja material mas igualmente vital para a sua alfabetização.
Bem como todos os casais de sexos opostos que tenham adoptado, pois por mais que queiram nunca serão os verdadeiros pais, já que nada substitui os laços biológicos.
Bem como todos os casais onde exista um padrasto ou uma madrasta, pela mesma ordem de ideias.
Bem como todos os pais que tenham no seu seio familiar, ou nos seus círculos de amizade, ou em qualquer outro tipo de meio onde se movimentem, algo que seja do conhecimento público e que possa levar a que as crianças sejam gozadas na escola ou na rua por isso.
Bem como todos os... enfim. Acho que vocês já perceberam a ideia.
Se o intuito é subjugar as crianças ao abrigo dessa falsa máxima de que é tudo pelo melhor para elas, então vamos removê-las de tudo o que seja ambiente familiar minimamente imperfeito para o seu florescimento e espetar com elas em centros de acolhimento.
Vamos tornar Portugal no país de orfãos que ele merece ser.