Haiku do arrependimento
Falhei. Falhei-te.
Prometo que vou mudar.
Desculpa-me, Deo.
Chouriço is a spicy portuguese smoked sausage, made with pork meat, pork fat, wine, paprika and salt, stuffed into tripe (natural or artificial) and slowly dried over smoke. It can be served as part of a meal or used as a dildo.
Obrigado, KoRn.
Foram uns maravilhosos 26 anos no topo do meu favoritismo musical.
A falarem-me visceralmente ao ser e ao ego. A servirem de amparo, almofada e, às vezes, muitas vezes, de reforço para as minhas emoções mais fortes e potencialmente destrutivas.
Mas, como tudo o que enfrenta o teste do tempo, as coisas mudam.
Eu já não sou o mesmo.
Vocês também não.
E fui conhecendo outras bandas.
Fui saindo com amigos, e frequentando sonoramente outros espaços.
E, em 2022, no VOA, conheci os Gojira.
Saí daquele certame musical com vários earworms dos quais não fiz conscientemente caso.
Mas algo mais vinha comigo. Uma espécie de memória involuntária e proustiana pegajosamente despoletada por eles.
Levei dias, semanas até conseguir processar devidamente este corpo estranho que psicossomaticamente me acompanhava.
Sentei-me. Desliguei a noção da passagem do tempo e dediquei-me a escutar.
Ouvi os principais temas. Depois álbuns completos. Toda a discografia. Repeti doses. Canoros manjares.
E finalmente percebi.
Sempre fui extraordinariamente exigente no que toca a música. O que ouço tem de "me" falar. De me chegar ao imo.
E, no meu âmago, no meu baluarte de egolatria, por detrás de portadas vitruvianas de autoconservação, imperava o silêncio.
Até os irmãos Duplantier as abrirem e rebentarem a metafórico pontapé.
A mensagem havia fonograficamente chegado.
Gojira simboliza todo um conjunto de decalques que todos nós, enquanto seres cogitantes e sencientes, podemos e devemos possuir.
Gojira pede-nos para largarmos o "eu" em prol do "nós". O foco da sua música, das suas letras, das suas mensagens, está mais no que nos rodeia, e menos nas nossas autopatias.
Gojira aborda a vida, a morte, o renascimento do ser, a natureza (a nossa, a dos outros, e A natureza), o ambiente e os outros organismos.
Gojira olha para a condição humana e o nosso lugar neste planeta enquanto seus guardiões.
Quando Gojira toca, aqui cai o ego.
Finge-se que não se conhece Narciso, abandona-se o falso valor da nossa própria significância, vê-se Freud e Jung por aquilo que eles realmente são, e erige-se a tropia de querer ser mais. Mais humano. Mais alocentrístico.
Gojira é música.
A música.
A música para os meus ouvidos.
É música, eu sei. Apenas música. Mas apenas se o deixarmos.
Quando, exactamente, é que "É uma caneca, se faz favor" se transformou em "É um copo com a mesma capacidade de uma caneca, se faz favor"?
Saquei da net um livro sobre o prazer e o orgasmo femininos.
Estava à espera de um PDF.
Em vez disso, estou a olhar para a directoria de download, e para um ficheiro intitulado "nao_existe.g".
De acordo com a morfologia da língua portuguesa, "tu", "ele" e "ela" são exemplos de pessoas verbais. Se bem que eu gostaria que vocês fossem só um bocadinho menos verbais, especialmente quando eu me estou a tentar concentrar no trabalho.
"Percebo o que dizes mas, de cada vez que abres a boca, fico sempre com a sensação que é o álcool a falar," disse eu à Brandy.
Não sou nada fã daquelas pessoas que, numa discussão, e apesar de fornecerem factos, não só contribuem zero para o debate público, como afectam o bem-estar e a harmonia no mesmo.
Dito isto: "não-binário" é um adjectivo masculino.
Acho que vivemos num momento no tempo em que cada vez mais menosprezamos o silêncio.
Quase como se o espaço sonoro tivesse de estar sempre a ser ocupado com algo.
Não tem.
Nos dias em que quiser a vossa companhia, é isso que vos estarei a pedir.
A vossa companhia.
Não precisam de falar. Não precisam de preencher o vazio de palavras com músicas resquentadas pela rádio, ou com Tik Tokes prostituídos à bruta em partilhas pelo WhatsApp.
Dêem-me a vossa companhia.
Ela basta.
Não desdenhem do poder da vossa "mera" presença.
No início, o alfabeto latino tinha apenas uma vogal.
A zarabatana, a caravana e a cataplana foram inventadas nessa altura.
"Nenhum homem é uma ilha," dizem-me "eles", enquanto eu vejo as tuas pontes de acesso a mim a desmoronarem-se a toda a volta.
Para mim, há apenas dois tipos de oradores: os que falam, e os que nunca mais se calam.
Um pardal, uma galinhola e um noitibó entram num bar.
Pergunta o barista: "Então, o que vai ser?"
O noitibó vira-se e diz: "Nada, estamos só a passarinhar."
Esta piada não é para tordos.
Tenho uma amiga que está a atravessar uma crise de identidade.
Chama-se Juliana mas é sopinha de massa.
Hades é o deus do reino subterrâneo, do mundo inferior, das trevas onde o destino das almas é traçado.
É também o irmão mais velho do Fostes e do Dissestes, e primo afastado do Quisestesio.
Sempre achei o Poupas uma aberração.
E há um filme da Rua Sésamo a ser planeado ainda para este ano.
Sou terminantemente contra trazerem essa personagem de volta.
Por mim, #nãopassarão.
Meto a sopa de agrião, a salada de frango com massa e rúcula e a lata de Guinness no tapete.
As coisas são agarradas e a máquina faz pi três vezes.
"É só?," interroga-me a moça.
"Sou, sim. Desde que a perdi. E vou pagar com cartão."
Não quero ter os pés bem assentes no solo. Não enquanto esta realidade for feita de areia movediça.
Porque tardam os meus ossos a transformar-se em cinza, quando tudo o resto já é preto e branco?
Não tremas mais.