Chouriço

Chouriço is a spicy portuguese smoked sausage, made with pork meat, pork fat, wine, paprika and salt, stuffed into tripe (natural or artificial) and slowly dried over smoke. It can be served as part of a meal or used as a dildo.

quarta-feira, dezembro 26, 2007

Espera aí que eu já te conto uma estória

José acordou maldisposto.
O Sol batia-lhe de frente nos olhos, rompendo através da persiana aqui e ali entreaberta da janela do quarto.
José não foi de modas e, irritado, enfaixou no Sol cabeçada tal que o Sol ficou os três dias que se seguiram sem brilhar.

Cambaleante e rabugento com o sono, José renunciou à preguiça e, saindo do reconfortante calor das mantas, José sentou-se na berma da cama apenas para descobrir que lhe faltavam os chinelos, e o chão ainda era coisa para estar frio.
Até quase que parecia que o Destino lhe estava a pregar uma partida.

Não sendo particular fã de que gozem com a sua cara, José arvorou-se e aviou uma carga de pancada no pobre do Destino que este nem sequer chegou a ver a matrícula do que o atropelou.
De caminho, ainda aproveitou para encetar dois ou três bananos no dia só porque este estava a teimar em não lhe começar bem.

"Que agressividade que tu tens, José", disse-lhe a quintessência do Ser, que até ali tinha estado no seu cantinho filantrópico a assistir a tudo.
"Devias ter um pouco mais de calma", rematou a quintessência.

José agarrou na quintessência do Ser pelos colarinhos e arrimou-a de encontro à parede, onde lhe explicou, com todas as letrinhas, que se ela voltasse a abrir a cavidade bucal apanhava uma trepa daquelas que já não se dão desde 1950.

A quintessência do Ser começou a choramingar a miúdo e, como amiúde sucede sempre que é atacado o Ser, veio de lá o Estar, na sua forma verbal, pronto a defender o seu congénere intransitivo.
Mais valia ao Estar ter estado quieto, pois José alçou das patongas e aplicou, logo ali, um real arraial de bordoeira.
Com um megarotativo, três estampilhas, meia dúzia de lamparinas e um par de bofetões, José parou de parir as doses de amargor que deixaram o Ser e o Estar sem saberem quem eram e onde estavam.
Não porque julgasse que a dose já era mais do que suficiente, mas porque já lhe doía as mãos de tanta bolachada.

E parecia que nada justificava a superfluidade de tamanha violência.
"Não é para isso que aqui estamos", ecoou pelo Universo, e também pelo quarto de José, a eterna enunciação do porquê de estarmos aqui.

José ergueu um daqueles olhares ameaçadores que dizem tudo.
E o porquê de estarmos aqui, esse, piou baixinho...

0 Comentários:

Enviar um comentário

<< Home