Sussudio

Eu sei, porque sei, que estas coisas sabem-se, tão certo como eu ter-me peidado há bocado na copa onde se bebe café e a Carla dos Recursos Humanos ter olhado para trás e eu ter dito "Não fui eu, foi ele" enquanto apontava para o armário dos copos, que nada dura para sempre.

E por isso sei, porque sei, que estas coisas sabem-se, tão certo como o Descartes ter dito "Tudo tem uma razão de ser" e eu lhe ter posto o Michael Bay à frente e ele ter respondido "Porra, com essa é que me lixaste", que terei, eventualmente, de partir para outras pastagens profissionais.
Pastagens onde não constará o meu actual chefe que, verdade seja dita, é uma das pessoas que mais respeito e admiro e mais respeitei e admirei ao longo de toda a minha vida.

E sei, porque sei, que estas coisas sabem-se, tão certo como eu ser tão mágico a fazer amor que sempre que me venho até faço um arco-íris atrás da orelha dela, que na hora das despedidas porei isto...



... a tocar e lhe apertarei demoradamente a mão e lhe direi "Sabes que isto não é um adeus, não sabes?" e ele me dirá "Sei-o perfeitamente, Ricardo: é um até já" e eu retrucarei "Até já" e ele dirá "Adeus" e eu quererei deitar fora aquela lágrima, mas não o farei porque essa lágrima, aquela, a única, já terá sido chorada e guardada num envelope que ele, assim que eu partir, encontrará sobre a sua secretária com a inscrição "Para ti, de mim" e ele pensará "De mim quem?" e eu serei esquecido e cuspido para o oblívio enquanto que ele ficará para sempre aqui, juntamente com a falsa esperança de que, sempre que eu estiver a pensar nele, ele estará a pensar em mim.