Iluminismo
Tenho uma forma de ver o Mundo tão à antiga que antes de qualquer coisa me ser minimamente visível a olho nu primeiro têm de me cortejar a menina dos olhos, mas cortejar à séria, tipo levá-la a jantar fora a um sítio fino ou ser ainda mais romanesco e simplesmente estender uma toalha no verde de um prado e recheá-la com tudo o que seja acepipe do bom e do caseiro e feito com o carinho que só uma avó sabe incutir, e meter-lhe flores no cabelo ao som de citações de Tolstói decoradas na noite anterior, e levá-la a ver uma reencenação de Édipo mas só com anões e sair do teatro de esgar culturalmente franzido, a bater palmas nas costas da mão e a coligir elogios em torno de como Voltaire é exímio na arte de satirizar e simultaneamente pugnar a tutelagem que nos é imposta pela sociedade, mesmo só com anões, e sentá-la no cimo de um muro e ler-lhe Emily Brontë apenas com recurso à luz da Lua, e trazê-la de volta a tempo e horas de ela e o meu corpo voltarem a ser uno e de ela poder ver o que tem a ver e da minha forma de ver o Mundo dar, finalmente, a sua perene e desnecessária divisa.
2 Comentários:
Deixa-me dar uma passa nisso que estás a fumar, vá lá...
Ainda não existem preparados tabágicos que simulem aquilo que eu penso... :)
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