Fracções
Não sei quanto a vocês, mas eu cá sou do tipo de dividir.
Divido tudo. A atenção. A vontade. A minha pessoa. A casa. A vontade da minha pessoa de sair de casa.
E divido tudo tão bem que até a conta do jantar fora eu divido por sete ou oito mesmo quando somos só dois.
Não para pagar menos, mas para mostrar que sei dividir por mais.
E foi ao abrigo deste âmbito aritmético que dividi a minha esperança de vida em três componentes distintas: sonhos, expectativas e promessas.
Dividi tudo muito bem divididinho, multipliquei o meu raciocínio em apreciações paralelas, subtraí-me em introspecção e percebi que, tudo somado... bom, não tenho nada.
Sonhos.
Fiz com os meus sonhos o mesmo que o Rambo fez com todos os seus pares de calças e andei a arrastá-los na lama até os gastar e já não terem volta possível.
Expectativas.
A única pessoa que ainda espera alguma coisa de mim é o tipo que me aborda todos os dias ali no Metro do Campo Grande e a quem falta sempre, todos os dias, cinquenta cêntimos para comprar um bilhete de volta a casa. É preciso ter-se azar. E ser teimoso e insistir em não comprar passe.
Promessas.
Prometi tanto, mas tanto de início, e acabei a quebrar tudo, mas tudo no fim.
Consigo perceber que, no cômputo geral, o futuro me continua risonho.
Só não fazia ideia era que esse sorriso era amarelo.
2 Comentários:
Este post é de tal qualidade que me faz imaginar um livro que, quando publicares, te fará certamente rico! Ou, pelo menos, não-pobre.
Olha que a qualidade do post é inversamente proporcional à qualidade enquanto pessoa de quem o escreveu.
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